uma pequena janela

sempre a mesma
vista
muitas vezes.

perdido nas horas
perdidas,
compridas.

uma pequena
janela
pequena.

sempre a mesma
vista
muitas vezes.

cortinas puxadas,
para cima,
observo.

uma pequena
janela
pequena.

sempre a mesma
vista
muitas vezes.

olhos
em sangue,
desisto

por uma pequena janela
pequena,
sem cortinas.

cilindros

cilindros
cinzentos
impenetráveis
intermináveis
as horas
perdidas
nas mãos
gastas
pelos dias
esquecidos
penetrados
pelos cinzentos
cilindros.

arame farpado

éramos
sons de árvores
entre arames,
farpados

mares
mergulhados,
em piscinas biológicas
vivas.

ainda sinto,
o calor
derretido
de nós.

páginas
reescritas
sem acordo
mútuo.

lembras-te?

dos outros

uma árvore sozinha.

a manhã

de azul pintada
como o branco,
que nos falta.

de voos sem aviões
e esperas,
desejadas.

laranjas doces,
de chão
e de pelos.

esta manhã,
sorrateiramente,
sorrio.

dentro de dias

dentro,
de dias
entro.

dentro
dos dias.

como uma parede branca

como uma parede, branca
sem bateria.
placas cortadas
sem riscos.

demora,
nome atrás de nome,
a chegar.

fala comigo
como uma parede, branca.

não me diz nada.

a espera

sem saber,
espero.
sozinho.

amanhã,
a casa
vazia.

hoje,
a casa
não existe.

ontem,
fugi
de casa.

sem saber,
continuo
à espera.

sem título

cabelos loiros
de sol,
de sal
e areia.

cabelos loiros
de sorrisos,
da infância
atlântica.

cabelos loiros,
belos,
próximos
de mim.

cabelos loiros,
de sorrisos
como os meus,
como os teus.

uma coisa qualquer

o que quer que seja
o que quero que seja
o que queres que seja
qualquer coisa

o que queres?

o que queres?
(respondo ao porteiro que) não sei.
se soubesse escrevia um livro.

sem título

árvores
em terra morta
por ti.

pele,
viva
em ti.

corpos,
gastos
por ti.

palavras,
esvaziadas
por mim.