sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

de verdade

lembro-me,
de verdade.

lembro-me sempre,
de verdade.

um dia,
de noite,
aqui,
ali.

sorrio,
da verdade,
cheio,
de verdade.

esqueço-me,
vezes,
zero,
demais.

aperto,
perto,
o aperto,
sonâmbulo.

lembro-me.
da verdade.

lembro-me sempre,
da verdade.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

um escândalo

um escândalo,
nas ruas vazias.
cheias,
de fumo.

uma bigorna nos pulmões.

passado
sem futuro.
presente
envenenado.

uma âncora nos pulmões.

sem cores,
nem preto,
nem branco,
difuso.

um escândalo.

não avança.
não recua.
não passa.
não fica.

deixa estar.


não ajuda.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

step by step II

quatro
três
dois
um.

muros que se constroem.

um
dois
três
quatro.

gatos gastos pelo gosto.


gosto.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

step by step

um
dois
três
quatro.

memórias que desabam.

quatro
três
dois
um.

somos sempre só nós sozinhos.


na vida,
senão na morte.

domingo, 23 de novembro de 2008

sem título

dores que doem mais do que dão prazer e os
raios solares a aquecer a alma, perdida, mas a
queimar os olhos, doridos, sem cor.
sei de cor esta história. dedos de prata, altivos,
sem força para pressionar as teclas do piano e os
dentes a apodrecerem, sem cair, para não nos esquecermos
deles. não suporto isto.

domingo, 9 de novembro de 2008

sem título


desfolhando revistas como folhas que caem
das árvores no outono amarelo.
sinais de fumo com pastilhas elásticas,
já sem sabor.
cheiros a podridão,
e a cola
sem infância.
(imagem por Puto do Farrobo)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

vou-me lembrando de me esquecer

vou-me lembrando de me esquecer
de aviões de tectos broncos,
de riscas e azuis,
de saltos altos,
sempre sozinhos,
amanhã.

vou-me lembrando de me esquecer
de salas abertas mas vazias,
de cadeiras cinzentas imóveis,
de cadáveres vivos,
sempre acompanhados,
hoje.

vou-me lembrando de me esquecer
que amanhã é igual a hoje,
comigo sempre na memória,
que agora escasseia;
sem esquecer,
ontem.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

a tristeza

a tristeza é agora
e demora.

molhada,
como os dias secos.

ontem,
arrastada.

portas
escancaradas
sem fechaduras,
possíveis.

sem convites,
enviados.

bocas fechadas,
com calor frio.

hoje,
continua.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

como as horas se transformam em dias

corremos.
deixamos correr.
deixamos escorrer.

desapego,
em braços
apertados.

como ontem,
como hoje,
como amanhã,

sem sustos,
com limites visíveis
e tristes.


sem sentir sequer.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

sem título

olho,
sempre
não.
vejo.

vejo,
sempre
não.
olho.

quero.
sempre.

(a puto do farrobo).

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

de volta

(ou como a distância é finita)
(ou como um quadrado pode ter arame farpado)

não há espaço,
na minha cabeça.

não há tempo,
aqui.

cheio de vazio
à vista.

não há verdade,
verdadeira.

ao menos sentimos,
muito.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

por dentro

por dentro,
de ti,
não penso.

vagueio
no tempo,
de certezas
incertas.

estamos mortos,
por dias
vivos.

confundimo-nos
os dois.
juntos.
na ilusão.


ficam sempre
ficamos.

domingo, 31 de agosto de 2008

sem título

de novo
velho,
sem tempo
para o tempo.

começo
sem fim,
o recomeço
inacabado.

de novo
velho,
sem tempo
para o tempo.

folhas
sem papel,
com tinta
invisível.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

bairro de lata

queremos pedaços,
de nada,
mais nada.

sem idade,
com sonhos,
recém-nascidos.

ao som de baleias
e cachalotes,
em perfeita harmonia.

no fundo,
fundo
no fundo.

preto no branco
sem castanho,
à volta.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

graça

humana,
divina,
total.

gritos
de vida,
de boca fechada.

risos
tranquilos
sentidos.

gosto,
do gosto
que sinto.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

revolução

de volta.
ao início
sem fim.

gritos de vento,
com mar
sem ar.

de volta.
ao início
da revolução.

sem pensamentos.
distorcidos
pelo ar.

de volta.
rio
de loucura.

sinto.
frio
quente.

sentes?

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

a vida teima em que eu exista

à velocidade da luz em dias escuros,
como amanhã.
não existe vácuo,
apenas matéria amorfa,
no futuro próximo.
não sei.

sempre que quiseres.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

sem título

lembro-me de um dia e de uma noite
em que me lembrei de esquecer
que não existo, às vezes.

lembro-me de ser abordado e não entender.

não me lembro de dias e noites
em que tudo era um espelho de mim.

um dia, não uma noite, sentirei o cheiro do vento,
quente, secreto, de sul.

chuva de trovoada, amarela, em campos de girassóis,
com ciprestes ao fundo.

um dia, não uma noite, morro e acordo.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

sem título

moído,
com um Sol imenso que me encandeia.

muito,
duma vez só.

as nuvens perseguem-me
e sussurram: vem...

frágil, recolho-me,
com um sorriso nos lábios.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

sem título

não existe pavio
existem noites sem dormir
com dias estranhos.

não existe primeiro,
não existe último
não sei sequer se existe.

não existe ausência,
não existe presença,
existe medo.

manhãs,
tardes,
noites.

dias e horas
secos,
com a cara molhada.

não há pulmões que resistam.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

dois dias depois

calo-me.
triste,
sorrio
e calo-me.

calado.
tristemente
alegre
e calado.

calo-me.
ausente,
sem calor
e calo-me.

calado.
um espaço em branco,
escuro
e calado.

calo-me.
entrego-me,
sem estar
e calo-me.


de certeza.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

"nos teus braços morreríamos"

noites quentes
feitas de cor de fogo
e sangue
e lua cheia.

sem dúvidas,
só acções
e gozo
e dor.

quente
como o frio
que me queima
o oxigénio.

sem números
com letras
caladas,
e fumo.

terra
sem rimas
entorpecidas
pelo cansaço.

sem sorrisos,
sem expressão
expressada
na respiração ofegante.

terça-feira, 1 de julho de 2008

uma pétala laranja

um fio que estanca
uma flor na escarpa,
o fogo que escapa
duma foda esculpida.

calendários
de anos passados,
em fuga,
vermelhos.

quatro tempos,
perdidos
em pesadelos
de ontem.

na pedra
não há dias.
no ar
há desespero.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

sem título

começo
com fumo,
proibido,
aqui.

continuo
sozinho,
no espaço,
sem tempo.

acabo
acompanhado,
com o Sol,
lá fora.

escrita automática

ainda ontem houve um processo nas mesas de plástico e ferro fundido
o meu cérebro não estruturado pelo bisturi nas mãos de um médico sem
o ser que é mesmo quando nos parece que deixou de o ser ou
nunca o foi há muito tempo que eu me apercebi que às vezes
não faz sentido nenhum continuar a inventar uma razão ou descobrir o significado da
vida contaminada pelo insustentável peso que acarreta decidir sobre o
que quer que seja mesmo que isso não signifique nada para os outros ou mesmo para mim próprio porque afinal nunca se vai saber o que conta mesmo
uma história deixada por contar.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

querer

poder.
deixar.
de.
ser.

terça-feira, 3 de junho de 2008

a água e o chão

a correr.
devagar.
com força.

no telhado.
no tecto.
no chão.

a água.
o gelo.
a falta de oxigénio.

a rastejar.
rápido.
sem força.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

esquema

montanha
cinza verde nuvens
sonho células quadradas
pessoas
duelos
de concorrência

provas e provas
e estudos e estudos
parar com justificações / e ingredientes e exemplos e necessidade
e riscos pretos e ajuda e cansa e no fundo não é necessário
só tu, nem eu, nem toalhas e cadeiras
só é preciso experimentar.

terça-feira, 13 de maio de 2008

e, de repente

e, de repente,
sou um ser colunável.
colunas de sal
e de Sol
e de sons estranhos
na minha cabeça.
como sonhos
de sonhos
de dor
sem sabor
de vermelho
como ela.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

to be continued

quatro
quartos
quadrados,
caídos.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

e ontem

de sinais,
castanhos,
como o céu
de setembro.

de junho
e outubro
como unhas,
cortadas.

e cabelos,
amarelecidos
pela chuva,
de maio.

acordes,
adormecidos,
despertos
hoje.

terça-feira, 8 de abril de 2008

fora dos dias

dentro.
de noites,
de diamantes
baços.

líquidos.
sem corpo,
e sem pele
permeável.

azul.
escuro,
como os corpos
invisíveis.

sorrisos.
no meio,
de nós
e dos dias.

segunda-feira, 31 de março de 2008

dos jornais

de papel amarelecido pelo Sol.

pilhas
e pilhas
de chão,
pelas paredes.

como jornais.

terça-feira, 18 de março de 2008

lamento

a mão que fica de fora
do frigorífico e da cadeia
alimentar dos dinossauros
extintos pela luz solar que
ontem brilha na chuva de hoje
que nos deixou secos como o
mar morto de fome e
de sede de sereias.

segunda-feira, 10 de março de 2008

um tampo branco

restos de mesas
escuras sem tampo
e tempo para brilhar.
pratos abertos
de braços de ferro
de choro e de riso.
como um porco,
de lábios sedentos
de fome.
pão de rãs e sapos
de céu sem brilho
e sem fluxo de poder.

segunda-feira, 3 de março de 2008

sem uma tarde com nuvens castanhas

não me lembro de vozes
nem de ouriços brancos.

não me lembro do Sol
nem do mar que gritava.

sinto-me sentado sem sentido.

não me lembro de lembrar
nem de sentir calor ou frio

não me lembro de tinta
nem de cheiros cheios de chuva.

limpo, limpo-me com a língua

não me lembro.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

beauty proof

não sou,
não somos
à prova de beleza.

efémera
ineficiente,
ineficaz.

ausente
e eterno,
descanso.

à prova de beleza,
não somos,
não sou.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

por ti

sim,
sempre
por ti.

menos,
e mais
por mim.

mais,
do menos
por mim.

menos
mais,
de ti.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

lábios secos

sem dor
repartida
a exaustão
de corpos

sorrisos,
sede.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

quer eu queira, quer não queira

quero querer
sem te dizer
quero ter,
poder.

altos,
alto
e baixo,
baixo.

escondo
me
revelo
te.

sem princípio,
sem fim,
sem antes,
sem depois.

durante.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

ardo

sem distância.
sem amargura.
sem sequer perceber,
a razão do mal.

sorriso nos lábios,
trémulos.
de prazer.

descolo,
sossegado.
sem linhas
nem fogo cruzado.

teimoso.
ardo
sem queimar.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

miserável.

era eu?
não,
sou eu.

inigualável nos buracos nas paredes.

verde,
seco,
claro.

sem horas mortas as minhas células cerebrais.

lamento?
a falta.
que fazes.

céu cinzento.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

há vezes

há vezes,
às vezes,
vezes
nada.

bolas de sabão
sem paredes,
nem tecto
para rebentar.

linhas,
cabos
e atmosferas
sem oxigénio.

implodir
em salas,
que se querem
de aulas.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

do calor, da calma e da tranquilidade

uma mensagem escrita a branco
com as costas aquecidas pela lua.

luz de mim
e dos outros.

não importa,
importa sempre.

lugares secretos,
esquecidos
e relembrados
todos os dias.

tempo
sem espaço
intemporal.

com regras,
desregradas
como a escrita,
que se afunda.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

às vezes

às vezes.
umas vezes.
algumas vezes.
muitas vezes.

sem voz,
sem suor,
sem pensar,
sem pudor.

correr
correr
a correr
sem parar.

com heterónimos
de outros
e viagens espaciais
nos armários.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

do oito e do sete

caminhos de árvores,
verdes
e castanhas.

areia,
clara,
como os dias.

sede de girassóis
e de vento,
nos cabelos.

em casa,
moínhos,
na alma.

e correr,
parado,
sem concorrer.

sorrisos,
e risos
de crianças.

fundo do mar.
oxigénio
e hélio.

vinte e quatro,
sete,
sempre...


... para sempre...

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

e hoje

e hoje.
a fuga pertence-me,
hoje,
fujo,
hoje.

e hoje.
não existo,
hoje,
adormeço,
hoje.

e hoje.
desespero,
hoje,
sem fúria,
hoje.

e hoje.
sou uma vírgula,
hoje,
sem ponto final,
hoje.

e amanhã.
mais do mesmo,
amanhã,
uma nuvem,
amanhã.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

da blasfémia

dor de saber,
que não sentes o sempre
como teu.

sempre que não foge,
nunca,
como sempre.

suspeito sempre,
suspenso,
sem pensar.

o sempre caminha,
sempre,
de mão dada comigo.

como ontem,
como hoje,
como sempre.

como a inexistência,
inexistente,
sempre.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

... até sempre

que o tempo não existe nunca, nunca sei por onde vou nem onde fico comigo e com paredes envoltas em papel sem morfina para aliviar a dor que teima em me cumprimentar como se um vizinho me batesse à porta para pedir um pão e dois ovos emprestados do banco da esquina que no final do mês anda atrás de mim como uma sanguessuga que practica sexo oral.
?
nem eu percebo.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

mais uma vez, por favor...

preenchido com cores sexuais.
sonhos e corpos envoltos em oxigénio líquido,
como o meu.

suores quentes e frios,
pescoços por morder
e especiarias.

pernas retorcidas,
escuro claro,
branco.

vontade de mim,
embebido de mim,
preguiça.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

dos demónios e do cérebro

como se cérebros em sangue negro de derrames de petróleo no mar alto

como um

mastro de um navio com gaivotas brancas do Sol e de Neptuno que é uma

invenção de loucos com tridentes e escamas e folhas de papel sem tinta

nos

rios de um país distante onde a neve não cai a não ser que escorregue

como

às vezes acontece ao mais irrequieto dos irmãos que não é nem mais nem

menos

feliz que os demais trabalhos que teimam em pensar que a vida não passa

de

uma passagem quando no fundo é a felicidade por si só.

nada a declarar à alfândega.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

do fogo e do frio

aceso,
em destroços.

velas amarradas em mastros ardidos no barco de mim.
aceso sem petróleo,
naturalmente,
como eu,
como tu.

porque sim.
porque não?

sonhos de céus vermelhos com perguntas incertas.
acredito.

lutar sem força,
sem desporto.
que não é luta,
a minha.

sem santos,
sem anjos,
com Deus...

para s.

do sangue e dos mortos

vermelho.
castanho.
roedores infernais.

perseguição implacável.
tormenta
que me atormenta.

o fogo apaga.
a água
de sede.

sede de vingança.
beco sem saída.
fuga à vista...

(para Rodrigo Leitão)

de locais à noite

de uma vez,
como se não importasse.

e importa.

ontem,
como se fosse agora.

como nunca.

o que aconteceria?
se aqui estivesses?

De boca fechada

Escadarias, com as mãos nos bolsos, enamoradas pelos espaços abertos.

Houve uma altura da sua (dele) vida em que ele se sentiu o dono do mundo, e era-o, apenas não o sabia. Andava de mãos dadas com ele próprio, como se o mundo não existisse, e não existia mesmo. O grande senão resumia-se a um simples facto: tudo não passava de uma grande mentira.

Uma noite afastou-se da mesa do salão do hotel onde tudo acontecia e, observador, começou aquilo que seria o princípio do fim da existência universal. Na verdade, não se lhe pode chamar existência, dadas as circunstâncias.

Uma nuvem de fumo percorria o tecto do salão e ameaçava desabar sobre a cabeça...

dos dias e das horas

como se,
como?
crédulo, desacredito.

e continuo a acreditar...

terça-feira, 22 de janeiro de 2008